RIO — Durante três horas, Leandro Monçores de Araújo, de 42 anos, o piloto que levou até Angra dos Reis os dois acusados de sequestrar um helicóptero para resgatar comparsa em presídio do Rio prestou depoimento na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco). Ao sair da especializada, o comandante — que está na empresa de táxi-aéreo desde dezembro do ano passado —, contou como foi a viagem. Ele lembrou que quando chegou na Lagoa três homens já o esperavam: um que fez o pagamento em dinheiro vivo e outros dois que voaram. Ele também afirmou que os suspeitos estavam com uma mala de mão e que já passou aos investigadores informações sobre as características de ambos.
— Eu estava na escala no dia do voo e fui convocado para levar o pessoal em Angra. Foi um procedimento normal que é corriqueiro e que a gente sempre está fazendo. Levei e na volta, como eu não eu não estava me sentindo muito bem, fui tirado. Sem prejulgamento, de tipo de classe social e cor, eram passageiros normais. Eram três homens: um que contratou e os dois que foram. Só dois voaram. O contratante pagou, os dois embarcaram e voaram — relata Leandro, que continua:
— (Após o pagamento) Eu decolei da Lagoa, por volta de 11h15, fui para a empresa (no Recreio) abastecer, fiquei lá 15 minutos e em seguida fomos para Angra. Deixei eles e voltei — conta o piloto.
Leandro contou ainda que o pagamento foi feito em espécie pelo contratante da aeronave.
— Como foi um voo emendado (pagamento de ida e volta), recebi e deixei o dinheiro na empresa. Eles pagaram o valor da hora do voo e deu cerca de R$ 14 mil (ida e volta).
Questionado sobre como eram os homens que levou, Leandro afirmou que não poderia dar muitos detalhes a pedido dos investigadores. No entanto, adiantou que ambos aparentavam ter cerca de 30 anos. Ele contou que um deles estava com uma mala de mão no momento do embarque.
— Eu já passei informações de como eram as características dos homens. Eles têm cerca de 30 anos. Carregavam uma mala padrão de passageiros normais. Foram sentados atrás, da mesma maneira que estavam com o comandante Adonis. No meio do voo um deles passou para a frente. Depois eu deixei eles lá e voltei para a base, procedimento padrão.
Questionado sobre informações de que um casal retomaria para o Rio, Leonardo disse que não tinha essa informação. E que o fretamento foi feito para buscar dois homens.
— Eu não tenho informação de casal.Até onde eu sei, era para buscar os dois homens. Ele (Adonis) trouxe os mesmos dois que eu levei.
No final, Leonardo afirmou que não saberia lidar com a situação caso fosse ele o piloto sequestrado. Mas, tentaria dissuadir os criminosos de tentativa de sequestro.
— A gente conversou sobre o que aconteceu. Cada piloto fala uma coisa. Eu não sei dizer o que eu faria. Eu tentaria convencer eles de que não daria certo. Você não consegue pegar um helicóptero e entrar em um presídio. Lá você tem vários policiais, uma grande segurança. Se tentássemos pousar, eles derrubariam o helicóptero. Até porque a ordem é para abater quem tenta entrar. Não tem o que fazer. O Adonis é meu amigo e conheço ele há anos. Foi uma sensação de alívio e preocupação por ser um amigo e companheiro de profissão.
Entenda o caso:
No último domingo, o piloto da Polícia Civil Adonis Lopes de Oliveira transportava dois homens que embarcaram de Angra para o Rio quando, já na aeronave, eles anunciaram sua verdadeira intenção: resgatar um detento no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio.
Com pistolas e fuzis em punho, os dois homens exigiram a mudança de rota. Adonis conseguiu frustrar o plano fazendo manobras e desviando a rota, que teve entre os pontos o Batalhão de Bangu, onde fez movimentos bruscos com o helicóptero para chamar a atenção do que acontecia no interior da cabine. O desembarque dos criminosos foi feito no Morro do Caramujo, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Eles ainda não foram localizados.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) e tem apoio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), que poderá fornecer imagens de câmeras de segurança do complexo e investigar se houve movimentação atípica entre os detentos.